Na pequena vila de Haworth, na Inglaterra do século XIX, três irmãs foram tão corajosas quanto as heroínas que protagonizam suas tramas: Charlotte, Emily e Anne Brontë, nascidas, respectivamente, em 1816, 1818 e 1820. Apesar dos poucos livros lançados – consequência da vida curta que tiveram –, elas não demoraram muito para serem reconhecidas como escritoras talentosas e criativas.
A partir de pseudônimos, publicaram romances quando isso ainda era praticamente proibido para mulheres, e os eternizaram entre os maiores clássicos da literatura inglesa (e mundial). Difícil pensar em outra família que tenha tanto impacto para o mundo da escrita, e isso em paralelo a diversas tragédias e traumas pessoais. Vem conferir algumas curiosidades da trajetória das irmãs!
Paixão pela escrita
Na infância, Charlotte, Emily e Anne Brontë devoraram a biblioteca do pai e inventaram mundos paralelos em brincadeiras com o irmão Branwell. Na adolescência, se reuniam para escrever histórias, misturando as confidências que ouviam das mulheres mais velhas da região e suas próprias experiências.
A primeira publicação
Publicaram juntas uma coletânea de poemas em 1846, mas o livro vendeu pouco. Não desistiram e se concentraram em publicar seus romances separadamente – Charlotte foi a primeira e lançou Jane Eyre, um sucesso imediato que levou a editora das irmãs a publicar seus romances ao mesmo tempo. Apesar de ambos terem sido bem recebidos, Agnes Grey de Anne foi “ofuscado” pelo mais dramático O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily.
Literatura não era para mulheres
As Brontë inicialmente publicaram suas histórias usando pseudônimos masculinos, já que não era bem visto que mulheres se envolvessem com atividades intelectuais. Essa foi a maneira que elas utilizaram para facilitar a publicação e recepção das obras. Ainda em vida, revelaram suas verdadeiras identidades.
Charlotte e o romance de formação
Apesar de muitos considerarem a produção da família Brontë como um todo, cada irmã tinha características próprias. Jane Eyre, por exemplo, se tornaria um marco entre os romances de formação – que acompanham a personagem desde a infância, narrando seu amadurecimento. Na história, Jane é uma órfã criada por sua tia, que, após anos de maus-tratos, a envia a um colégio interno extremamente rígido. A obra tem um caráter de rebeldia contra as normas impostas às mulheres na era vitoriana.
Os mistérios de Emily
Já Emily é considerada a mais misteriosa das irmãs. Seu único livro, O Morro dos Ventos Uivantes, foge do esperado da época, pois tem uma alta dose de violência verbal e mau comportamento vindo das personagens, além de abordar temas como adultério e incesto. Por isso, o retrato de amor e ódio dos protagonistas Cathy e Heathcliff teve uma repercussão negativa assim que lançado, sendo considerado imoral. Mas o tempo fez com que a obra fosse celebrada como um clássico absoluto.
Anne e suas figuras fortes
Os livros de Anne trazem a trajetória de figuras femininas fortes e independentes. O segundo deles, A Senhora de Wildfell Hall, é sobre uma mulher que abandona o marido agressivo e foge com o filho. A narrativa é uma das poucas do período a contestar o sistema legal que desfavorecia as mulheres e não lhes davam os mesmos direitos civis que os homens. A temática escandalizou a sociedade inglesa e atraiu muitas críticas, no entanto, o livro apresenta um legado incontestável.
O impacto Brontë
Uma coisa é certa: todas as irmãs estavam à frente de seu tempo. Pesquisadores hoje consideram os textos como “proto-feministas”, isto é, apresentam um tom de denúncia às limitações que as mulheres sofriam, antes mesmo do conceito de feminismo existir. Não à toa, nomes como Virginia Woolf e Simone de Beauvoir expressaram admiração às obras das Brontë. Outra faceta peculiar eram os temas escolhidos a dedo, sempre ousados e dignos de censura por serem considerados tabus.
> Quer saber mais sobre as irmãs Brontë? Temos uma dica de filme: As Irmãs Brontë, de 2016, dirigido por Sally Wainwright.
